18 de dezembro de 2008

Vingança

O barulho de interferência no final do vídeo incomodava bastante. Mas aquele não era seu principal problema. Na verdade, nem sequer estava ouvindo aquele som ensurdecedor, suas preocupações estavam todas concentradas nas milhares de informações que passaram por sua mente nos últimos 2 minutos. Havia mais 6 televisores ligados naquela sala de vigilância, cada um deles mostrava um corpo com escritos marcados à suas costas. Pareciam ser palavras escritas em outro idioma, primeiro relacionou como sendo inglês, mas ao olhar todas, percebeu que estava errado. ”WAR”, “DIE”, “SIE”, “EINZIGE”, “DER”, “WUSSTE”.
-Já temos a tradução?
Perguntou com certo abalo na voz.
-É alemão senhor! Sie war die einzige der wusste, significa: Ela era a única que sabia.
O ódio pelo assassino só crescera mais um pouco, ele enviara um recado se gabando e da maneira mais doentia possível. Além disso, a mensagem fez com que ele relembrasse o vídeo que acabara de ver. Camila, uma importante testemunha num caso que ele trabalhava no momento, aparecia sendo violentada por alguns homens encapuzados. Ao final do vídeo ela era morta com um tiro na cabeça e uma mensagem aparecia na tela: ”Quem será a próxima vitima?”. Na verdade, o caso envolvendo Camila era muito mais importante do que o normal. Ela havia sido a única testemunha do assassinato de sua mulher e, portanto a ultima esperança em pegar o culpado. Seu coração apenas pedia vingança, sua mente concordava plenamente enquanto tentava colocar todas as informações juntas e descobrir algo que fosse útil. A este ponto, já tinha certeza que o autor desta nefasta obra era o mesmo que havia assassinado sua mulher. Reconstruindo suas ações e considerando alguns padrões do assassino chegou a algumas definições. Ele deveria ser muito astuto, porem sua prepotência seria sua ruína. Nesse caso, eles haviam sido enganados por uma chamada de emergência vinda de dentro da empresa de remédios da cidade. Uma mulher havia ligado, relatando que um roubo estava ocorrendo e ela estava escondida no terminal de segurança. Ao chegarem ao local, a energia tinha sido desligada e fora isso, nada parecia errado. Adentraram algumas salas e tudo estava normal. Por ultimo, arrombaram a sala das câmeras de vigilância. Os monitores estavam todos desligados e uma fita aparecia sobre a mesa com a mensagem “play it”. Ao colocar a fita para funcionar, todas as luzes foram ligadas e os acontecimentos se seguiram até o presente momento. Apenas um pequeno detalhe havia lhe chamado a atenção nessa pequena retrospectiva.
-Coloquem o vídeo da Camila em câmera lenta!
-Pare!
-Aproxime um pouco a imagem no quadro.
Sabia que havia algo de peculiar naquele local, reconheceu imediatamente aquele quadro. Era o ultimo quadro que sua mulher havia pintado e sabia exatamente onde encontrar o comprador dele. Com um ímpeto vingativo, decidiu que aquele assassino não mereceria um julgamento.
-Acho que não vou encontrar mais nada por aqui hoje pessoal, vou descansar e conto com vocês para encontrarem pistas.
Todos acataram as ordens, mas ir pra casa era a ultima coisa que passava pela sua cabeça nesse momento. Entrou em seu carro e seguiu rapidamente para o centro. Pelo caminho, o ódio dominava cada centímetro do seu corpo. “Como ele pode fazer isso com ela?”. Essa pergunta não deixava sua mente, mas ele nem mesmo queria uma resposta. Queria apenas justiça e ela seria feita. Com um forte chute, arrebentou a porta e adentrou a sala de uma casa. O mau cheiro e os rastros de sangue confirmavam sua suspeita, aquele havia sido o local que aparecia no vídeo. A luz do quarto estava ligada, provavelmente ele estaria lá. Mais alguns passos e um vulto apareceu por trás dele. Sentiu o cano gelado encostar-se à sua nuca.
-Sabia que você viria sozinho, a sua sede por vingança foi mais forte que a razão meu caro. Infelizmente, isso custara a sua vida
-Por que Carlos? Por quê? Ela era sua irmã.
Ao invés da resposta, sentiu o cano esquentar e um forte barulho. Foi a ultima coisa que ouvira.
-Às vezes fazemos coisas inexplicáveis meu caro amigo...

2 Comentarios:

Cris Animal disse...

Fernando...caramba, que texto!
Juro que eu lia e voltava e lia de novo a mesma frase.
Houve uma época que eu amava ler Agatha Christie, justamente por sentir esse suspense, essa emoção fria...mas tão quente nesse tipo de leitura.
Fazemos coisas que nunca imaginamos...
Esse texto precisa continuar .
Sério, por um tempo vc me fez voltar numa época muito legal, onde esse tipo de leitura me fascinava pela imaginação e a capacidade de movimento na leitura para prender à atenção.
Adorei!
Beijo grande.......Cris Animal

:.tossan® disse...

Eu queria saber fazer isso! Muito bom! Vou ser repetitivo vc é muito bom! Ótimo conto! Abraço

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Porque fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.
(Carlos Drummond de Andrade)